segunda-feira, agosto 23, 2021



Incrível como algumas músicas desencadeiam lembranças guardadas bem no fundo do inconsciente. O disco “To The Faithfull Departed” dos Cranberries me transporta direto pra os meus 17 anos. Lembro que comprei esse CD usado e tive que colar uma etiqueta com meu nome por cima da assinatura da antiga dona.

Terceiro álbum da banda e o meu preferido, ouvia a exaustão. Na minha bagagem podia faltar qualquer coisa, mas o disc man (cd player portátil), pilhas que não duravam nada, sempre descarregavam, e os meus CDs eram itens indispensáveis. Todo mundo gostava de Caranberries e cantava Salvation e When You´re Gone  junto, mesmo não sabendo a letra.

Nessa época eu era estudante, no último ano de ensino médio, tentando entrar na universidade. Uma coisa boa da maratona de provas era que a oportunidade para viajar para Teresina com os amigos. A mãe do nosso amigo Carlinhos, tinha uma chácara, próxima a Teresina e sempre nos recebia muito bem, era como estar em casa.

Éramos colegas de classe e amigos inseparáveis, adorávamos pregar peças uns nos outros. Quando o ônibus parou, todos desceram na beira da estrada, e deixaram todas malas comigo. De proposito, peguei apenas a minha. Nunca vou esquecer do Jonas correndo a toda velocidade no meio da BR.  O motorista demorou um pouco a percebê-lo, mas ao final de tudo, a correria valeu a pena, todas as bagagens foram recuperadas e ficaram as risadas de toda que nos lembrávamos disso. 

 

sábado, junho 12, 2021

Os meus antepassados - Parte 1



Estou lendo uma trilogia fantástica do Italo Calvino chamada Os Nosso Antepassados. Composta pelos romances O Visconde Partido ao Meio, O Barão nas Árvores e O Cavaleiro Inexistente. Cada livro tem um protagonista bem peculiar e a escrita irônica e bem humorada do autor me inspirou a escrever sobre os meus antepassados. Resolvi começar por minha bisavó paterna. 

Não cheguei a conhecer Dona Francisca, mas ela é uma figura mítica na família. Sua personalidade forte e boa índole eram assuntos recorrentes nas histórias que meu avô contava sobre a sogra. Algumas eram tão inusitadas, que podiam facilmente pertencer ao universo fantástico de García Márquez.

Era uma mulher independente, que mesmo com sua pesada rotina pesada de mãe e dona de casa. Costurava, cultivava e vendia tabaco, verduras, galinhas. Tinha sempre sua renda extra, para não precisar depender financeiramente de ninguém.

Alguns diziam que ela tinha o coração pequeno, pois cabia pouca gente dentro dele. Sua afeição e carinhos eram para poucos, mas os felizardos em garantir esse cantinho eram tratados com deferência. Ela não escondia suas preferências.

Mas a sua característica mais marcante, era que nunca voltava atrás. Depois de tomar qualquer decisão, era caso encerrado. Logo após o casamento, meu bisavô gentilmente pediu que ela não o chamasse de Senhor, agora eles eram casados e podiam ser mais informais.

Isso a enfureceu a ponto de jurar não pronunciar nunca mais o nome do marido. E ela seguiu firme com essa promessa até o fim da vida. Cada vez que tinha que se referir a ele, mandava alguém chamá-lo: menino, chama teu avô ou menina, chama teu pai pra almoçar. Quanto a mim, eu reconheço que sou teimoso às vezes mas estou tentando melhorar.

 

terça-feira, abril 27, 2021

Breve e divertido

O Visconde Partido ao MeioO Visconde Partido ao Meio by Italo Calvino
My rating: 4 of 5 stars

O Visconde Partido ao Meio é o segundo livro do autor Italo Calvino, e o primeiro de uma trilogia fantástica chamada: Os Nossos Ancestrais. Nesse volume, o autor constrói uma uma fábula para contar a estória de um Medardo di Terralba, um visconde atingido que durante a guerra foi atingido por uma bala de canhão, e milagrosamente sobrevive, mesmo partido ao meio. Uma metade tende a ser má e impiedosa, enquanto a outra é boa e idealista.
Com essa premissa, o autor constrói uma interessante metáfora sobre a natureza humana. Livro breve, porém muito divertido. Vale muito a leitura.

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sábado, abril 17, 2021

Questão de Tempo

Publicado em 1940, O Deserto dos Tártaros do escritor italiano Dino Buzzati é uma obra-prima atemporal. Merecidamente um sucesso de público e crítica no mundo inteiro. Além disso, ainda foi considerado um dos melhores livros do século XX pelo jornal francês Le Monde. O livro conta a estória do tenente Giovanni Drogo, recém saído da academia militar, o jovem nutre muitas expectativas de fama e glória nessa carreira. Drogo é transferido para o Forte Bastiani. Um lugar remoto, onde ninguém sabe explicar ao certo sua localização. A fortificação vive sob a constante ameça de um ataque dos povos do norte. Após vários dias de viagem a cavalo, Drogo chega a um local decadente, onde planeja passar apenas quatro meses, porém sua estadia vai se prolongando dia após dia. A burocracia militar e uma série de imprevistos sempre o impedem de procurar outros destinos, outras missões. E tempo vai passando, a idade avançando sem que Drogo se dê conta disso. Buzzati se inspirou construiu um belo romance através de metaforas e alegorias sobre a solidão, a espera e principalmente nos fazendo pensar no quanto a vida é breve. E não temos tempo para disperdiçar.

sábado, setembro 17, 2011

Qualidade Argentina


Dirigido e escrito por Guillermo Grillo, diretor do curta “Bar de La Mala Noche”, Fantasma de Buenos Aires é um daqueles filmes em que você espera muita coisa, mas acaba te surpreendendo e conquistando sem esforço.

O longa argentino aposta na simplicidade nota-se claramente que o longa foi realizado com um orçamento baixíssimo. E o que lhe falta em recursos lhe sobra em criatividade, competência e muita qualidade técnica. Destaque para a edição, direção de arte e a fotografia impecáveis, aliados a uma deliciosa trilha sonora.

É difícil classificar a película em um único gênero. O roteiro eclético vai do terror ao humor, sem nunca perder o rumo e a essência. Além disso, ainda se intercalam duas histórias paralelas, separadas por séculos diferentes e que obviamente se cruzam. Esses excessos que poderiam estragar o desenvolvimento da estória, acabam por torná-la ainda mais interessante.

Fantasma conta a história de um grupo de amigos que tomados pelo tédio decidem jogar Ouija ou “jogo do copo” em que um espírito responde perguntas movimentando um copo em um tabuleiro. Mas a brincadeira acaba mal, o copo se espatifa no chão e o fantasma passa a assombrar a casa.

A partir daí nasce uma improvável amizade entre Tomás (o ótimo, Estanislao Silveyra) e o fantasma de Canaveri (Ivan Espeche), um boêmio assassinado na década de 20. Os dois fazem um pacto, a entidade lhe contará tudo que acontece no além-túmulo se ele lhe emprestar seu corpo por alguns dias para que ele resolva um assunto que ficou pendente.

Fantasma de Buenos Aires é uma grata surpresa do novo cinema argentino, que a cada ano se supera e supreende na qualidade de suas películas. Os hermanos têm muito a ensinar ao cinema brasileiro.

quarta-feira, junho 22, 2011

Simples e Apaixonante

Dirigido por Jean Becker (Conversas Com Meu Jardineiro) e baseado no romance “La Tête en Friche de Marie-Sabine Roger. Minhas Tardes Com Margueritte é um daqueles filmes que qualquer elogio que se faça não é suficiente para descrevê-lo. Uma estória extremamente simples que traça uma delicada análise sobre a profundidade das relações humanas e que mostra como a amizade e o amor pela leitura podem mudar vidas e abrir horizontes.

A trama se concentra na estória de Germain (Gérard Depardieu, sempre ótimo), um feirante ignorante que todas as tardes durante a sua folga se senta no parque para comer um sanduiche e alimentar os pombos. Numa dessas tardes ele encontra Margueritte (Gisèle Casadesus), uma simpática senhora de 95 anos apaixonada por livros.

Desse improvável encontro de duas pessoas tão diferentes nasce uma bela amizade. Durante essas tardes tão mágicas, Marguerite lê clássicos da literatura como A Peste de Albert Camus e a troca de experiências e admiração mútua, que faz com que esses dois indivíduos repensem suas vidas tão solitárias.

Destaque também para o roteiro bem escrito, que mesmo permeado por flashbacks sobre a infância de German, que sem prejudicar a fluidez da trama, tornam o drama do personagem mais palatável. Minhas Tardes Com Margueritte conquista sem apelar para os clichês ou sentimentalismo; e o melhor, sem nunca cair na pieguice, o que é bastante raro no cinema atual. Curto, intenso, poético, simples e delicioso, um filme que merece ser apreciado.

Clique Aqui Para Assistir Ao Trailer.

sábado, junho 11, 2011

Em Busca Da Verdade

Baseado no Best-Seller de Tatyane de Rosnay, que já vendeu mais de 400 mil exemplares ao redor do planeta, A Chave de Sarah é uma das boas surpresas do cinema francês deste ano O enredo se passa em 1942, período do holocausto, numa Paris ocupada pelos nazistas.Esse triste episódio ficou conhecido como “a concentração do Vel’ d’Hiv”, onde 13 mil judeus foram detidos pela polícia francesa e ficaram confinados em um velódromo.

E é aqui que começa o drama de Sarah, a garota tem a casa invadida pelos oficiais e na tentativa de salvar o irmão menor, esconde o garoto em uma porta secreta na parede. Ela promete voltar logo e fica com a chave do cômodo. Mas ela não esperava ser arrancada de casa junto com os pais e levada para o velódromo junto com os outros judeus. A partir daí, Sarah só tem um pensamento, escapar e salvar o irmão.

Então a história muda de rumo e mostra Julia (Kristin Scott Thomas), uma jornalista americana que vive Paris e está incumbida de fazer uma pesquisa sobre o incidente de Vel’ d’Hiv, para lembrar ao público os 60 anos do triste acontecimento. Durante a pesquisa Júlia descobre uma ligação entre uma família judia e o apartamento que pertence à família de seu marido, e não demora pra que ela descubra a trágica história de Sarah.

Com uma edição bastante eficiente a narrativa vai alinhavando o passado com o presente, seguindo a mesma estrutura do livro, como se fossem capítulos que se alternam. O roteiro cheio de surpresas e reviravoltas instiga o interesse do espectador nessa apaixonada busca pela verdade. A Chave de Sara é uma história incrível que entretém e nos faz refletir.

Clique aqui para assistir ao trailer (legendado em inglês).

Incrível como algumas músicas desencadeiam lembranças guardadas bem no fundo do inconsciente. O disco “To The Faithfull Departed” dos Cranbe...